Abertura Festiva, op. 21

Juan Orrego-Salas

Nascido em Santiago, Chile, Juan Orrego-Salas desenvolveu seu primeiro trabalho de músico quando criou e dirigiu o Coro da Universidade Católica, onde estudava Arquitetura. Estudou música com dois ilustres músicos chilenos, Pedro Humberto Allende – considerado, por Juan Carlos Paz, responsável pela corrente criadora que incluiu o Chile no panorama da música americana – e Domingo Santa Cruz, renomado compositor que chegou a aproximar-se do atonalismo e que lutou incansavelmente pelo desenvolvimento da vida musical do país.

 

Em 1944, abandonando seu trabalho de arquiteto para dedicar-se integralmente à música, Orrego-Salas seguiu para os Estados Unidos com apoio das fundações Rockefeller e Guggenheim. Nesse país estudou Musicologia em Columbia, Composição nas universidades de Virginia e Princeton, com Randall Thompson, e em Tanglewood com Aaron Copland. Foi também discípulo de Robert Shaw para Regência.

 

Contratado pela Universidade Estatal do Chile em 1947, retorna ao magistério em seu país. Viagens em 1949, como artista convidado, à Grã-Bretanha, França e Itália ampliam sua visão de mundo e permitem seu contato com as correntes musicais vigentes na Europa.

 

Valendo-se de um segundo subsídio da Guggenheim, passa um ano em Nova York, dedicado à criação. De novo no Chile, dirige o Instituto de Extensão Musical, de grande abrangência. Mas, após dois anos, renuncia a esse cargo para fundar e dirigir o Departamento de Música da Universidade Católica em Santiago, onde permanece até 1961.

 

Após ter lecionado vinte anos no Chile, já internacionalmente conhecido, volta aos Estados Unidos para, dessa vez, reestruturar e dirigir o Centro Latino-Americano de Música da Universidade de Indiana, em Bloomington. Por 27 anos o compositor permanece nessas funções e também, de 1975 a 1980, como Chairman do Departamento de Composição, aposentando-se em 1987 como Professor Emérito.

 

Em sua longa carreira de compositor e professor, Orrego-Salas recebeu os mais altos prêmios de seu país e, da Organização dos Estados Americanos, o Prêmio Interamericano Gabriela Mistral. Em 2005 voltou ao Chile para lançar o livro Encuentros, visiones e repasos, de memórias e reflexões sobre música e sobre a sua obra. Muitas de suas composições têm sido motivadas por encomendas de fundações (Koussevitzky, Cooolidge, etc.), universidades, orquestras, solistas. Destacam-se em sua vasta produção as obras corais, a Cantata de Natal, a Sonata para violino e piano, entre tantas outras.

 

Hoje vive em Los Angeles, Califórnia.

 

A Obertura Festiva (título original em espanhol) para grande orquestra foi composta em 1947 e a estreia se deu em excursão da Orquestra Sinfônica do Chile, em 1948. Orrego-Salas utilizou nessa obra sua extrema habilidade de orquestrador e compôs, com rica palheta de nuances, uma peça em três partes, sem interrupção – Allegro vivace, Lento, Allegro vivace – que segue a tradição das “aberturas” independentes, as quais não antecedem ou preparam uma ópera, nem obedecem a um “programa”. Neste caso, a Obertura Festiva tem motivação comemorativa – como algumas aberturas de Beethoven e Brahms – porém de natureza especialmente afetuosa, já que o compositor festejava o nascimento de sua filha, Francisca. A primeira parte apresenta dois temas: o primeiro, baseado em compasso binário composto, muito dinâmico, dançante, desenho bem marcante formado por intervalos de quarta ascendente e descendente; o segundo tema, melódico, em compasso binário, introduz uma característica canção espanhola. Após a volta vigorosa do primeiro tema, surge, sem interrupção, em pianíssimo, a segunda parte da obra, Lento, em ritmo de valsa lenta, com orquestração tênue, em que ressaltam intervenções de flauta e clarinete solistas. A terceira parte, Allegro vivace, também sem preparação, utiliza os dois temas da primeira parte, inclui um pequeno interlúdio delicado e, com progressivo adensamento da orquestração, vertiginosos rasgos de semicolcheias e grande crescendo, chega ao brilhante final.

 

Berenice Menegale
Pianista, Diretora da Fundação de Educação Artística.

*Agradecimento especial a Gustavo Marín Navarro, que colaborou com valiosas informações.

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