Sinfonia nº 1 em sol menor, op. 13, “Sonhos de Inverno”

Piotr Ilitch TCHAIKOVSKY

(1874)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.

 

Tchaikovsky chegou a Moscou em janeiro de 1866, aos vinte e cinco anos de idade, convidado por Nikolai Rubinstein para lecionar teoria musical no futuro Conservatório de Música da cidade, que seria inaugurado em setembro daquele ano. Desejoso de se firmar como compositor, Tchaikovsky logo se empenhou em uma tarefa por demais árdua para um jovem recém-formado: a composição de uma sinfonia. Em março ele começou, com dificuldade, a traçar os primeiros rascunhos, mas, no mês seguinte, a publicação de uma crítica devastadora do compositor César Cui a respeito de sua cantata An die Freude, apresentada três meses antes em seu concerto de formatura, desencadeou uma série de problemas psicológicos que o acompanhariam por toda a vida. Tchaikovsky passou a sofrer de ansiedade nervosa e insônia e a apresentar ataques apopléticos constantes. Ao final de maio ele conseguiu, com muito esforço, terminar o esboço da Sinfonia e, nos meses de junho e julho, em São Petersburgo, passou várias noites acordado trabalhando na orquestração.

 

Com a saúde física e mental em frangalhos, Tchaikovsky cometeu um erro de cálculo que, por pouco, não lhe provocaria um colapso mental devastador. Antes de voltar a Moscou para a inauguração do Conservatório, resolveu submeter a Sinfonia, ainda inacabada, à crítica de seus antigos professores Anton Rubinstein e Nikolai Zaremba. Os dois foram impiedosos, atacando cruelmente a obra. Hipersensível a críticas, Tchaikovsky voltou a Moscou completamente arrasado. Porém, assumiu suas funções no Conservatório e no mês de dezembro conseguiu voltar à Sinfonia. Trechos dela foram apresentados por Nikolai Rubinstein naquele final de ano e no início do seguinte (fevereiro de 1867), mas o compositor ainda teve de esperar doze meses para ter sua Sinfonia no 1 executada na versão completa, em 3 e 15 de fevereiro de 1868, em Moscou, sob a regência de Nikolai Rubinstein. A versão que hoje conhecemos data de quando Tchaikovsky revisou a obra pela última vez, antes de sua publicação, em 1875. Essa versão, definitiva, foi executada em público, pela primeira vez, em 1883.

 

O título da Sinfonia, “Sonhos de inverno”, é do próprio Tchaikovsky, assim como os títulos para o primeiro e segundo movimentos. O primeiro movimento, “Sonhos de uma viagem de inverno”, possui dois temas: o primeiro, vivo, ouvido logo no início na flauta e no fagote, e o segundo, doce, executado pelo clarinete. O segundo movimento, “Terra sombria, terra de bruma”, é pungente, construído sobre o belíssimo tema do oboé. Quando nos aproximamos do fim, as duas primeiras trompas apresentam o tema em caráter majestoso. O Scherzo é rápido e possui, na seção central, um alegre tema de valsa. O Finale é sombrio e, em certo sentido, melancólico, mesmo depois de atingido o Allegro. Apenas na grandiosa Coda Tchaikovsky deixa entrever um pouco de sol. Trata-se de uma obra madura, evidenciando o temperamento típico da música russa, tanto em seus temas de sabor folclórico quanto no brilhante colorido orquestral.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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